Tres livros, uma viagem, algumas percepções e reflexões
Uma amiga comentou a respeito de uma trilogia escrita por Kathleen McGowan relacionada à história de Maria Madalena, à saga do povo catar, aos supostos descentes de Maria Madalena com Jesus e a outros personagens históricos que teriam protegido e promovido os ensinamentos de Cristo. A maior parte da narrativa se passa na França e na Italia, e minha amiga planejava uma viagem para visitar os locais mencionados. Me interessei pela história e também pela proposta de viajarmos com esta perspectiva de acompanhar os passos de tão interessante testemunha do início do cristianismo. Planejamos juntas os locais a visitar, o percurso e quando viajarmos. Assim surgiu a vivência Nos Passos de Maria Madalena, que ocorreu em junho de 2018.
Para nos prepararmos para a viagem, nos propusemos a ler os três livros de Kathleen – O segredo do anel, O livro do amor e O principe poeta. Minha amiga promoveu encontros para que interessados pela proposta pudessem também compartilhar a leitura destes e de outros livros relacionados aos temas de Maria Madalena e do povo catar. No final formamos um grupo de quatro, que por duas semanas, explorou o sul da França – as regiões de Provence e Languedoc-Roussillon, assim como Paris e Chartres.
Nosso itinerário começou por Avignon, onde o imponente Palácio dos Papas nos fez refletir sobre o poder e a riqueza da igreja de Roma, sobretudo na Idade Média, onde bulas papais tinham a capacidade de mudar os rumos da história, transformar cristãos em hereges. Na região de Carcassonne veríamos mais a este respeito. Ainda na Provence, exploramos Saintes Maries de la Mer, local onde o barco trazendo Maria Madalena, Maria Jacobina e Maria Salome, alem de José de Arimatea, teria aportado em 46 da era cristã, fugidos de Alexandria no Egito. Na igreja local existem as reliquias das duas Marias, Jacobina e Salome, e tambem se venera Santa Sara. Para esta há varias lendas: seria uma serva egípcia que os acompanhara na viagem, ou seria uma provençal que os teria ajudado, ou ainda seria ela a suposta filha de Madalena e Jesus que dava continuidade ao sangue real? Não há como comprovar nenhuma das versões. Acredita-se naquilo que no seu coração ressoar.
Seguimos para a região de Carcassonne, importante vila da região de Languedoc-Roussillon, na época do povo catar. Exploramos seu castelo e muralhas, visitamos lugares históricos como Montségur e Rennes le Château, alem da gruta de Lombrives. Em cada recanto conhecemos mais sobre a cruzada aos catares, empreendida pelo rei de França (Louis IX, que viria a ser Saint Louis) em parceria com o Papa. Foi a única cruzada realizada na Europa e contra cristãos. O povo catar, ao que conseguimos apreender das visitas e leituras, seguiam uma religião com base nos conceitos e práticas gnósticas – observavam valores cristãos mas não se submetiam aos dogmas de Roma, entendiam que qualquer ser humano tem a possibilidade de, por si só, encontrar o caminho de desenvolvimento, sem a necessidade de intermediarios como padres, bispos e igreja de forma geral. Por isto teriam sido considerados hereges por Roma e queimados na fogueira. Milhares de pessoas morreram nesta cruzada. Ao final, suas terras foram anexadas ao reino da França, que as distribuiu aos nobres fieis à Coroa e ao Papa. Novamente poder e riqueza ditando os rumos da humanidade, atendendo aos proprios interesses.
Voltando à Provence, visitamos a gruta em La Baume onde Maria Madalena teria passado os últimos trinta anos de vida, como reclusa. É um local que transmite uma energia que é difícil descrever. A subida é puxada, mas a natureza que nos acolhe ajuda a vencer o desafio. No final, a vista das cadeias de montanhas que se observa lá do alto nos faz refletir sobre os vários altos e baixos que passamos na vida. De lá seguimos para a cidade de Saint Maxim la Sainte Baume, onde está o túmulo de Maria Madalena, na basílica em sua homenagem. Outro local de energia peculiar. Em ambos os locais imagens de uma jovem bonita, de dabelos compridos e cacheados, que parece sofrer uma grande perda. Nada se pode afirmar, mas, novamente, podemos ouvir nossos corações.
Ainda na Provence, visitamos Les Baux de Provence, uma preciosidade em se tratando de cidades provençais, e Sault, a capital mundial da lavanda. Final de junho, os campos repletos de flores, um leve perfume no ar… Em Baux aprendemos que a cidade também foi sitiada como em Montsegur, morrendo centenas de pessoas, por conta de brigas por terra. Novamente mortes em nome do interesse de poderosos. Em Sault visitamos a abadia de Senonque, e conhecemos um pouco mais sobre os cisternianos, que seguem os preceitos de Santo Domingo. L
Deixamos o sul da França para fechar nossa viagem em Paris e Chartres. Na cidade luz visitamos a imponente igreja de Maria Madalena, que parece dominar a esplanada que segue até os Invalides, passando pela Concordia com seu imponente obelisco egípcio. Também visitamos a igreja de Saint Sulpice para admirar a Pietá que está logo na primeira capela. É uma imagem preciosa de Nossa Senhora, que segura o filho morto com um dos braços e com o outro abraço acalenta Maria Madalena ao lado de Jesus. Os três formam um triangulo, imagem geométrica que representa a Trindade. Nestas igrejas haveriam mensagens ocultas? Como ressoam ao nosso sentir?
Chratres foi a cereja do bolo. Visitar uma das mais belas catedrais góticas da Europa, e do mundo, é sempre um momento de satisfação! E desta vez com os sentidos apurados para buscar traços de Maria Madalena nas centenas de imagens aqui representadas em vitraux e esculturas… Na última manhã da viagem assistimos à missa matinal na cripta, com a bela imagem de Nossa Senhora Negra, e tivemos a oportunidade de caminhar no labirinto desenhado no chão da catedral. Fazer este percurso do labirinto no momento que fechávamos esta viagem especial foi como fazer um resumo do mergulho nas vivencias e nas observações resultantes.
Viajar, por si só, já é uma oportunidade de desenvolvimento pessoal. Mas ter como pano de fundo a intenção de aprofundar conhecimentos históricos e pesquisar eventos lendários transforma a viagem em experiência. E, ainda, observando de forma consciente como a experiência conversa com nosso EU, experimentamos uma vivência única.
Agradeço à minha amiga, e aos demais participantes desta vivência, a oportunidade de estarmos juntos nesta caminhada!
