Separando o joio do trigo no processo de coaching.
Em 2015, para registrar os 20 anos da International Coach Federation (ICF), e também para reforçar a compreensão do processo de coaching, publiquei o post “O que é coaching?” Volto ao tema, por conta de todo um debate atual sobre a regulamentação desta atividade profissional. Minha proposta é separar o joio do trigo.
Aproveitando este dito popular, que tem origem numa parábola da Bíblia, gostaria de trazer as seguintes reflexões:
1) Joio – é uma planta que muito se parece com o trigo, até que forme sua espiga, com constituição morfológica e coloração diferente. 
2) “Por ser uma erva daninha comum entre o trigo susceptível a infecção fúngica, incluindo por fungos produtores de toxinas com efeitos graves sobre os humanos, em diversas línguas europeias a planta (joio) tem nomes que rementem para a embriaguez,”, conforme Wikipedia.
3) Se fizermos um paralelo com os resultados de um processo de coaching facilitado por um profissional capacitado e experiente com outro realizado por pessoas que acreditam que coaching é um papo entre amigos ou, no extremo, que seja um processo de forçar o cliente a se superar sempre, sem levar em conta diversos fatores humanos e organizacionais, então, por um lado, colheremos trigo e por outro joio.
O processo de coaching requer um facilitador que seja capaz de:
– semear o campo com sementes de qualidade, ou seja, apoiar o cliente na potencialização de seus recursos;
– cuidar da plantação de forma orgânica, ou seja, propiciar que o cliente seja o promotor do seu auto-conhecimento e desenvolvimento
– planejar e realizar a colheita no momento adequado, ou seja, suportar o cliente no planejamento pessoal rumo ao futuro desejado
Diferentes escolas e associações existem no mercado de coaching:
– Umas escolas estão em atuação há décadas, conduzidas por profissionais altamente capacitados e experientes. Formaram algumas centenas de coaches ao longo de sua história, por meio de cursos de média ou longa duração. São escolas acreditadas por instituições internacionais independentes, quer dizer, são formalmente reconhecidas por instituições sem fins lucrativos que validam a formação que é oferecida com base em um conjunto de valores e práticas, internacionalmente aceito.
– Outras são mais recentes, formam milhares de coaches de forma simultânea, em processos de curta ou curtíssima duração. Por vezes são conduzidas no formato de palestras proferidas por um showman. O reconhecimento destas formações, em grande maioria, se dá por instituições a elas ligadas, sem referência externa.
A diferença entre escolas e associações não é trivial ao cliente inexperiente. Mas regulamentar a atividade profissional, a depender da forma como for feita, também não vai impedir que se cultive joio ao invés de trigo. O que é vital é a transparência e a ética na formação e na facilitação do processo.
No entanto, se a proposta de regulamentação vingar, os coaches profissionais e as escolas que os formam e as instituições que as credenciam devem participar ativamente deste processo. No passado, vivi situações similares em relação a regulamentações inapropriadas. Por exemplo, legisladores, sem qualquer formação tecnológica, estabeleceram regras e formas impraticáveis de proteção de informações sigilosas. Consideravam como se todas as informações sensíveis estivessem armazenadas em documentos em meio físico ou tipo DOC, enquanto a grande maioria residia em sistemas com parrudos controles de acesso, armazenados em super-computadores, física e logicamente protegidos. Foram necessárias muitas negociações para demonstrar o quão ineficaz era a legislação, até que fosse anulada e substituída por regras mais adequadas.
Mais que regulamentar, é preciso educar clientes, mercado e amigos para que sejam capazes de separar o joio do trigo.