Relatividade no tempo e no espaço e a qualidade de vida
Einstein e, antes dele, Galileu e outros cientistas e filósofos pesquisaram a relatividade nas dimensões tempo e espaço, de como dependem do ponto de vista do observador. Uma das conclusões é que o tempo passa mais devagar num objeto que se desloca em grande velocidade, em relação a um estacionário. No video “Teoria da Relatividade de Albert Eistein” do Portal da Ciência no Youtube estes conceitos são apresentados de forma simplificada.
Ao percorrer a pé os 800km no Caminho de Santiago, de St Jean Pied de Port (França) a Santiago de Compostela (Espanha), pude vivenciar a relatividade no espaço e no tempo, comparando ao que percebemos na nossa vida cotidiana em grandes cidades.
A primeira reflexão é sobre a percepção de distância. Ao caminhar em grandes espaços abertos, como nos campos de cultivo extensivo de trigo e girassol na região de Leon e Castilla, ao vermos no horizonte uma vila, imaginamos quão longe estará. Uns 5 km, talvez? Na realidade, aquela vila deve estar bem mais próxima, a uns 2 ou 3 km de distância. Estamos acostumados com cenários cheios de prédios e esta “poluição visual” atua como que encurtando a distância. O espaço de uma grande cidade, como o Rio de Janeiro por exemplo, equivale a muitos campos de cultivo e várias vilas e algumas cidades. No dia a dia, percorremos grandes distâncias no ir e vir de nossos afazeres e não nos damos conta!
E como espaço e tempo estão relacionados, nossa percepção de tempo também se altera. Só que agora na mão contrária! A sensação do tempo passado é menor! Não é que andemos mais rápido no campo do que na cidade, pelo contrário! Ao se conectar com a natureza, contemplando todo o seu esplendor, seja nas intermináveis “mesetas espanholas” e sobretudo nas florestas das montanhas da Galícia, não percebemos o tempo passar. De pequenas flores silvestres a árvores monumentais, de delicadas borboletas de cores diversas a famílias de coelhos, cegonhas e até javalis, há tanto para admirar! Enquanto na nossa vida cotidiana, que pouco espaço há para este contato com a natureza, o tempo também passa rápido, mas com outra qualidade para a alma.
E não só no caminhar diário pela natureza a percepção do tempo e do espaço foram diferentes. A experiência como um todo trouxe esta sensação. Ao concluir o Caminho não tinha o sentimento de ter passado tanto tempo naquela rotina. Por outro lado, como foram tantos os climas experimentados – frio, calor, chuva e sol – tantas vilas e cidades visitadas, tantas montanhas ultrapassadas, é como se tivesse explorado um mundo novo.
Não podemos passar a vida no Caminho de Santiago, mas devemos melhorar a nossa qualidade de vida. Na nossa rotina de ultrapassar desafios – os longos percursos e as montanhas da vida – devemos realizá-los com mais consciência e podemos incluir formas mais agradáveis de vivênciá-los. Assim o tempo e o espaço passam a ter outra qualidade!