Ao encontro do meu EU
Qual o propósito de uma pessoa quando decide fazer o Caminho de Santiago? Pagar uma promessa, pedir uma ajuda para um problema, e também turismo, novos amigos, gastronomia. A grande maioria anseia por ter uma significativa experiência espiritual, aquele encontro com o sobrenatural.
No meu caso, fazer o caminho representa agradecer, não por uma promessa alcançada, mas pela vida vivida, pelas oportunidades que soube aproveitar e pelos desafios superados.
Em maio de 2010 fiz o caminho português em companhia de uma amiga, saindo de Braga, seguindo norte em direção à Santiago. Foram 11 dias cerca de 250km. Descobrindo como viver com muito pouco, dormir em albergues, compartilhar o que tínhamos para comer com desconhecidos na hora da ceia. Uma experiência no plano físico e espiritual.
Mas o caminho francês, cruzando o norte da Espanha, estava nos meus sonhos desde que visitei Santiago de Compostela em 1998. A chegada dos corajosos peregrinos que percorriam 800 km, ultrapassando as temíveis montanhas como Cebreiro, era repleta de muita alegria e energia.
Então, em agosto de 2016 coloquei-me em ação. Voltei ao caminho, desta vez sozinha, saindo de St. Jean Pied de Port (França), atravessando os Pirineus e as mesetas do norte da Espanha, até Fromista. Foram 18 dias, cerca de 400km. Resolvi fazer o caminho em duas etapas, sobretudo porque não queria que virasse rotina. Em julho de 2017, em companhia de meu marido, retornei à Fromista para retomar a caminhada. Outros 400 km percorridos em 27 dias. Caminhar até a hora do almoço e explorar a região após a “siesta”, num ritmo tranquilo, degustando as experiências no caminho. Ambas as etapas representaram experiências físicas, emocionais e espirituais.
É interessante ver a curiosidade das pessoas quando retornamos. “E aí, como foi?”, “Valeu a pena tanto sacrifício?”, “Teve alguma experiência extraordinária?”, são as perguntas mais frequentes. Meio que se frustam quando contamos o que passamos, pois não conseguimos descrever em palavras os muitos momentos de total conexão do nosso EU com o Cosmos. Da conexão do que está fora com o que está dentro.
Para mim, o Caminho de Santiago é o caminho ao encontro do meu EU.