Córsega, uma ilha a explorar
Em julho de 2018 tive a oportunidade de viajar para a ilha de Córsega, no Mediterrâneo. Por 10 dias fiz de carro o tour da ilha pelo litoral, visitei suas principais cidades, mergulhei em praias de água cristalina e conheci um pouco de sua cultura e gastronomia. Descobri o quanto ignorava de um lugar tão precioso! Na verdade, o pouco que sabia da Córsega era sua localização na parte este do Mediterrâneo e que era um Departamento francês, apesar de sua proximidade da Itália.
Ao começar o planejamento da viagem me deparei com a informação de que viagens curtas de cerca de 130 km demorariam de 3 a 4 horas! Isto porque a ilha, na sua maioria, é cortada por montanhas que dificultam o deslocamento. Não poderia imaginar o que encontraria… cadeias de montanhas que ultrapassam fácil mil metros de altitude, se alternam umas às outras. O pico mais alto tem cerca de 2.700 metros e existem outros cinco com mais de 2.000 metros de altitude. Em algumas praias, como em Calvi, vemos ao largo montanhas com neves eternas em pleno verão!
E esta geografia seria influência para a gastronomia local. Vinhos encorpados, produzidos em três áreas distintas do território. Queijos, embutidos e carnes de sabor forte, na sua maioria produzidos a partir de caprinos. E tirando proveito de sua enorme costa, diversos pratos a base de peixes, moluscos e crustáceos… aromatizados por ervas encontradas localmente, nos maquis!
A história do povo corsa remonta ao neolítico, mas a cultura atual é fruto de um longo domínio da ilha pelos genoveses, desde a Idade Média até a recente anexação ao território francês, em meados do século XVIII. A depender da cidade, o ambiente sofreu mais influência da Itália ou da França. Percebe-se isto na forma como prédios são construídos e mantidos, como se comportam os motoristas e até mesmo pelo trajar das pessoas de mais idade. E com a invasão dos turistas, a mistura fica ainda mais interessante. Aos 300 mil moradores juntam-se cerca de um milhão e meio de visitantes ao ano, na maioria oriundos de países da Europa (França e Italia, assim como Holanda, Suíça, Bélgica e Espanha), poucos asiáticos e muito poucos norte-americanos, canadenses, latinos e africanos. Uma surpresa foi o grande número de portugueses que residem na Córsega, cerca de 10% da população, que chegaram nos últimos cinco anos, para trabalhar principalmente como mão de obra qualificada na construção civil, mas também na hotelaria.
O litoral é lindíssimo. Na sua maioria são montanhas altíssimas que serpenteiam ao longo da costa, formando enseadas de um azul maravilhoso. As praias, geralmente com chão de pedras roladas, tem águas transparentes. E no verão, a temperatura da água (cerca de 25.C) ajuda a refrescar do calor! Para aproveitar a praia, sandálias ou sapatos de borracha são indispensáveis para caminhar na areia e nas pedras ou mergulhar. Apetrechos de mergulho, pelo menos óculos de natação, vão permitir observar a fauna e a flora submarina. Nas praias mais badaladas é comum o esquema de bares ao longo da praia com espreguiçadeiras para alugar. Mas o melhor é que, mesmo nestes locais, a praia é considerada espaço público. Soube que o Club Méditerranée quando construiu seu primeiro resort na ilha teria privatizado a praia, aí locais teriam explodido a construção para mostrar seu descontentamento. O prédio foi refeito mas a praia permaneceu pública.
O transporte até a ilha pode ser por via aérea (há 4 aeroportos internacionais) ou marítima (ferries saem de vários portos franceses e italianos com destino às principais cidades da ilha). Para explorar a ilha a melhor opção é o carro, que te permite fazer livremente itinerários diversos. Encontrei muitos motociclistas e trailers, mesmo em estradas estreitas que mal cabiam dois carros. Também ciclistas se aventurando pelas subidas e descidas… até mesmo famílias e grupos de caminhantes, já que as montanhas tem diversas trilhas mapeadas em seus parques naturais.
Não visitei seu interior, mas pude observar ao longe os muitos vilarejos construídos no alto das montanhas, as conhecidas “villes perchées” da Provence. O motivo da construção em locais de tão difícil acesso era facilitar a proteção de invasores e piratas, comuns na Idade Média. Soube até de um monastério beneditino que recebe interessados em ali se hospedarem para fazer um retiro, enquanto convivem com os monges em sua vida diária de orações e trabalho na manutenção do monastério, na cozinha ou no campo. Esta parte central da ilha ficou para uma outra viagem.
Fiquei inspirada a buscar novos locais ainda com este gostinho de pouco explorados, até mesmo selvagens como várias florestas e praias na parte mais ao norte, no Cabo Córsega. Em resumo, a ilha de Córsega foi um destino surpreendente. Recomendo!