O incêndio de Notre Dame em mim
Por volta das 18:30h de 15/04/2019, em Paris, percebia-se fumaça no teto da Catedral de Notre Dame. Rapidamente as chamas se espalharam por sua centenária estrutura de madeira que suportava o telhado, assim como a noticia do incêndio se espalhava pelo mundo! Pelo WhatsApp, meu pai me alertou do que se passava… Assim como milhares de pessoas, mundo afora, acompanhei a batalha pelo controle do fogo, a busca por minimizar os impactos na estrutura centenária. Senti-me como transportada à Idade Média, quando era comum catedrais ruirem pela força do fogo. Uma angustia no peito, pela impossibilidade de agir. Só restava ter fé que aquele prédio, construído com base na geometria sagrada, que abrigava tantos itens representantes da fé em Cristo, seria poupado.
Nas 48 horas que se passaram o fogo foi dominado e os tesouros ali contidos, cerca de 2 mil peças que testemunham ou registram a fé, foram resgatados e transferidos para um local seguro. Foi possível entrar na igreja e iniciar o trabalho de rescaldo e avaliação das consequências. Os estragos na magnifica abóboda central, agora interrompida pelo imenso buraco resultante da queda da “flecha”, tornaram evidente o perigo que corre a estrutura, ja que a integridade do todo depende do conjunto das forças que percorrem os arcos, os pilares e as paredes. Apesar de tudo, os centenários vitraux das rosáceas das laterais estavam intactos, assim como a cruz e a Pietá no altar principal. Ao mesmo tempo, iniciou-se um movimento para recolher fundos financeiros para a reconstrução. Bilionários franceses e internacionais, assim como empresas e pessoas comuns, anunciaram a doação de quantias que, rapidamente, ultrapassaram 2 bilhões de euros! Esta pronta reação provocou um debate mundial, visto que crises humanitárias não recebiam este tipo de atenção. Nova angústia no peito – por mais que admire aquela obra de arte da engenharia da Idade Média, os seres humanos que sofrem pelo mundo deveriam ser os primeiros beneficiados. Só restava ter fé nos contra-argumentos que vários dos doadores já eram benfeitores de projetos sociais.
Mas ter fé não pode ser o que me resta fazer. Que mais devo aprender e o que mais devo fazer?
Uma das reflexões que me veio, logo nos primeiros momentos do incêndio, foi ter estado por 10 dias no final de março, ali ao lado, passado na porta da catedral inúmeras vezes e não ter entrado, por preguiça de ficar na fila. Planejei ir à missa e a uma apresentação do órgão e, por baixo querer, não fui! Por que não ouvi o chamado da Pietá, que era o que efetivamente queria rever, e venci a preguiça e baixo querer? Como aprendizado ficou estar mais atenta aos chamados e, assim, ter um querer mais forte.
E, como aprendizado da reflexão anterior e por conta do desconforto mencionado às doações, o que percebo como necessário a fazer é ampliar o diálogo sobre o poder do dinheiro como facilitador da urgente transformação social. Temos de melhor compreender os três tipos de dinheiro – comprar, poupar e doar. (tema apresentado no post Consciência transformadora e sua relação com o dinheiro). Precisamos ampliar a Rede Dinheiro e Consciência (detalhada no post Já ouviu falar da Rede Dinheiro e Consciência?). Devemos olhar para os males do mundo com a mesma emoção com que acompanhamos o incêndio na Notre Dame e usarmos esta comoção para nos unirmos e agirmos!