A vida em suspensão
Se em 2019, enquanto planejávamos os trabalhos e viagens deste ano, nos dissessem que países da Ásia e da Europa, Estados Unidos e outros tantos estariam passando por quarentenas, certamente pensaríamos numa guerra química, num cenário de ficção.
E aqui estamos, 14 de março de 2020, 3 semanas após o Carnaval, tudo parado ou parando. Nossos projetos sendo colocados em hold. Alguns podem ser postergados. Outros serão definitivamente cancelados. Porque, junto com a crise de saúde, vem a crise econômica. Empresas perdendo mercado. Ainda mais desempregados sem enxergar uma luz no fim do túnel. Famílias em casa aguardando que uma onda de virus venha e diminua de intensidade. É como se estivéssemos numa praia, sabendo que um tsunami se aproxima, mas não há tempo para fugir, apenas nos abrigar e ter fé.
A humanidade, já mergulhada em tantas crises, sobretudo humanitária e climática, não foi capaz de perceber esta nova ameaça. Pior, não tivemos a capacidade de compreender nossas vulnerabilidades. E, assim, chegamos ao atual estágio.
A raça humana já provou ser capaz de se reinventar. Aproveitemos a oportunidade de “ter tempo” para rever nossos valores, como observou minha professora de yoga. Este tempo acarreta perdas materiais, para uns maiores do que para outros. Mas nos permite entrar em contato com um mundo supra-sensível. Desde que estejamos aberto para experiênciá-lo.
Este mundo supra-sensível pode ser percebido na relação do nosso Eu com o outro. A distancia, sem nos vermos ou tocarmos, somos capazes de aprimorar nossos sentidos. Como o cego, que é capaz de perceber a beleza do arco-iris por meio de sua energia. Ou o surdo, que sente a harmonia da musica pelo vibrar do mundo a sua volta. Outra forma de experienciar o supra-sensível é lendo um livro, observando as nuvens no céu, desenhando, etc. Se estiver com filhos, sobrinhos ou netos, volte a ser criança. Se não estiver, permita-se ser criança.
Não desperdice a oportunidade para relaxar e apreciar o mundo ao seu redor.
Lembrei de quando tive caxumba numas ferias de julho – via meus amigos brincando na vila mas eu tinha de ficar sozinha em casa. Então vesti as bonecas como caipiras, com roupas feitas de papel, alinhei cadeiras e mesa fazendo banquinhas, coloquei papeis amassados como prendas e montei minha festa junina pessoal. Foi tão legal que passei a fazer o mesmo por vários anos, mesmo estando saudável. Gostava do tempo que passava comigo mesma!
Lógico que temos de encarar os variados problemas “de adultos” que nos cercam. No entanto, se tivermos a possibilidade de liberar nossa criança interior neste momento, talvez ela nos apresente soluções inesperadas. A pureza da criança será capaz de iluminar as sombras. E ao sairmos desta fase, em suspensão, a vida fluirá de forma mais vibrante.