Viagem internacional em tempos de pandemia – parte 1
Foi bem difícil decidir por realizar esta viagem. Outubro se aproximava, o próximo módulo da Formação em Acompanhamento Biográfico, que faço na Suíça há dois anos, estava confirmado. Era o sexto módulo de dez, e realmente queria muito participar. Caso contrário teria de retardar a conclusão da formação por 3 a 4 anos. Isto se esta formação ainda continuar após nossa turma! A vida na Suíça voltava, pouco a pouco. Então comecei a verificar possibilidades.
Em setembro o Brasil era um dos epicentros da pandemia e a entrada de brasileiros estava bloqueada na Europa. Felizmente tenho dupla cidadania e com passaporte português teria a possibilidade de entrar. Então minha agente de viagem e eu começamos uma serie de trocas de mensagens com consulados de Portugal e Suíça para nos assegurar que eu entraria. Como a viagem aérea teria inicio no Brasil, fomos informadas que eu poderia entrar mas que era necessário que eu ficasse em quarentena na Suíça. Dez dias sem sair para nada, nem mercado, nem farmácia.
Passamos então à emissão das passagens aéreas e à pesquisa sobre os testes necessários para embarcar, que devem ser feitos, no máximo, 72h antes do embarque. Mas os laboratórios informavam que o prazo era de 3 dias uteis para darem o resultado. Dai ficamos com um quebra cabeça – marcar a data do voo de ida de forma a fazer o exame 3 dias uteis antes e, depois da chegada, ter pelo menos 10 dias em quarentena por lá. Data de ida confirmada, vamos logo agendar o dito exame. Mas precisava solicitação médica, mesmo que você decida pagar particular. Mais mensagens, desta vez com minha médica, atolada de trabalho. Quase a meia noite ela me ligou. Havia acabado de enviar o pedido. Com isto concluo o agendamento do exame.
Com a entrada autorizada, passagem reservada e exame agendado, saí em busca de hospedagem. Meu sonho: um apartamento com varanda e uma bela vista de lago e montanhas. Nada fácil, dentro de um orçamento razoável, considerando que estamos falando de Suíça, um dos países mais caros do mundo. Depois de alguns dias de pesquisa no Booking.com e no Airbnb, finalmente acho o que procuro. Mais trocas de mensagens com proprietário para informar que estarei em quarentena (alguns não estão aceitando) e outros acertos sobre minha estadia.
Faltava ainda contratar o seguro viagem. Mas a escolha ja estava feita, visto que só uma empresa estava cobrindo a pandemia. Apenas tive que escolher o plano e sua validade.
Por fim cheguei ao quesito alimentação. Uma amiga me avisou que os mercados não estavam fazendo entrega nos fins de semana. Confirmei a informação no site do Migros. Não daria para eu chegar no sábado a tarde e só receber as compras na segunda. Mais mensagens para o proprietário, que gentilmente se dispos a receber as compras na sexta à tarde. Na véspera de embarcar faço as compras para minha primeira semana de quarentena e torço para que sejam entregues.
Três dias antes da viagem, dia para fazer o teste agendado, chove horrores na cidade. Cidade alagada! Lembro de que havia visto um anuncio nas mídias sociais de uma clinica mais próxima de minha casa que estava entregando o resultado dos exames em 24h. Ligo para lá, confirmo a informação, agendo para o dia seguinte o exame. O resultado saiu efetivamente em 24h, tudo certo, poderia viajar.
Mas a situação na Europa estava piorando, a segunda onda da pandemia parecia estar iniciando. Comecei, então, a questionar minha decisão de viajar. Imediatamente recebi um sinal – minha nora fez um pronunciamento na Assembléia Geral da ONU, de como as mulheres devem assumir seu espaço, mesmo que para isto necessitem correr riscos. OK, sigo com o planejado.
Ainda havia uma pergunta sem resposta: poderia ir de trem do aeroporto em Zurich até o apartamento alugado? Por mais que pesquisasse, não via uma declaração dizendo que era proibido, nem autorizado. Deixei para descobrir na hora de embarcar.
Foram tantas as « pedras no caminho » que quase desisti.